VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mateus Bruxel/Folhapress | |
Chaminés na av. Francisco Matarazzo, em SP; valorização de terrenos leva ao chão antigos parques industriais |
Manter de pé apenas as chaminés de antigas fábricas de São Paulo tem sido a estratégia das construtoras para conseguir a liberação dos órgãos do patrimônio histórico e, assim, ocupar os grandes terrenos do município com condomínios residenciais.
Na maioria dos casos, os galpões ao redor das chaminés, também com seu valor histórico, acabam no chão.
Especialista em patrimônio criticam a solução e veem na valorização dos antigos bairros industriais, como Mooca, na zona leste, e Lapa, na zona oeste, uma ameaça à preservação histórica do processo de industrialização.
Um empreendimento residencial de classe média, o Luzes da Mooca, cercará, com quatro torres de apartamentos, uma chaminé da antiga fábrica de açúcar União. Os galpões foram demolidos.
Na mesma rua, a Borges de Figueiredo, os galpões das antigas indústrias Duchen, Francisco Matarazzo e Fiat Lux foram parcialmente demolidos. A construtora Agre quer prédios residenciais ali.
Enquanto o Departamento do Patrimônio Histórico, que emite pareceres técnicos para o Conpresp, elaborava o texto a fim de pedir o tombamento, parte dos galpões foi demolida. Rapidamente o DPH abriu processo de tombamento, o que garantiu a proteção da parte que restou.
O DPH, então, concluiu o estudo e pediu o tombamento das estruturas com face para a linha de trem da CPTM que passa atrás do terreno.
O pedido, pronto em 2007, nunca chegou, no entanto, a ser votado pelo Conpresp.
A Agre afirma que pretende preservar tudo o que o órgão municipal determinar.
O caso lembra o da Casa das Caldeiras, na avenida Francisco Matarazzo, na zona oeste, que foi demolida enquanto o Conpresp estudava o tombamento do imóvel, concluído em 1986.
Restaram duas chaminés e a casa de caldeiras. Os antigos galpões foram demolidos para dar lugar a prédios.
Para Nádia Somekh, arquiteta, professora do Mackenzie e conselheira do Conpresp, "preservar só um pedaço, como a chaminé, é um paliativo. É muito pouco."
Segundo Angela Rosch Rodrigues, arquiteta e mestranda da FAU-USP, existe no país certa dificuldade de se reconhecer o valor cultural de bens recentes, como o patrimônio industrial.
Regina Monteiro, idealizadora da Lei Cidade Limpa e diretora de paisagem urbana da prefeitura, cita como opção para a preservação a reciclagem do uso, como ocorreu com o Sesc Pompeia, instalado em uma antiga indústria.
Também em outras cidades paulistas há casos de preservação só das chaminés.
Em São Caetano do Sul, a prefeitura já autorizou a demolição das antigas Indústrias Francisco Matarazzo. Há um pedido de tombamento apenas das chaminés.
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